Comumente as HQs são tidas como meros produtos de consumo, isto é, de entretenimento ou que não devem ser levados a sério, pois não propõem uma reflexão sobre alguma temática. Certamente os anos 1980 é um marco para a histórias em quadrinhos norte americanos. Nomes como Alan Moore (1953 - ), Art Spiegelman (1948 - ), Frank Miller (1957 - ), Grant Morrison (1960 - ) e Neil Gaiman (1960 - ) contribuíram para um novo olhar sobre as HQs, posteriormente alguns trabalhos destes autores tornaram graphic novels, ganhando prêmios como o Pulitzer e ganhando legitimidade como gênero literário.
Quadrinhos de super-heróis como Batman a Piada Mortal (1988), Batman o Cavaleiro das Trevas (1986), Miracleman (1982) e Monstro do Pântano (1983-1987)*, Surfista Prateado Parábola (1988) e Watchmen (1986-1987) deixaram as suas marcas no gênero. Nas obras mencionadas os personagens são mais humanizadas, isto é, não são mais tidos como personalidades com características messiânicas, são vigilantes mascarados extremamente violentos apenas preocupados com seu ego, ou seja, o conceito de herói clássico comumente retratados nos quadrinhos são desconstruídos, questões éticas podem ser levantadas a partir deste ponto, para ilustrar esta desconstrução do herói podemos citar a graphic novel Watchmen, sendo mais especifico o vigilante mascarado Comediante. Mesmo sendo considerado como um herói, as atitudes do Comediante não condiz com tal: criminoso de guerra, estuprou sua colega de grupo, mata seus inimigos, mesmo tendo com esses feitos, o Comediante possui o consentimento do Estado estadunidense para agir. Deste modo, é correto que Watchmen crítica e satiriza a imagem do super-herói. Se houvesse combatentes do crime mascarados na vida real eles seriam psicopatas. A saga do Alan Moore em Monstro do Pântano levanta uma serie de questões relacionado ao meio ambiente. Surfista Prateado Parábola problematiza o discurso político, na obra é apresentado as consequências do discurso político em uma sociedade alienada, pois trará consequências como o fanatismo religioso e o discurso de ódio, deste modo fragiliza a democracia.
Saindo do nicho dos super-heróis temos Maus, uma graphic novel escrita e ilustrada por Art Spiegelman, Maus narra o relato de um sobrevivente judeu (pai do autor) no campo de concentração polonês de Auschwitz. Além de levantar questões existenciais e políticas, a obra relata as mais duras consequências das medidas tomadas de um Estado extremista como o regime nazista, ou seja, as escolhas políticas devem ser analisadas de maneira cautelosa, pois trará consequências ao longo da história, sejam elas positivas ou negativas.
Deste modo, torna-se visível que a década de 1980 é um marco para as histórias em quadrinhos, pois ela não é vista como um produto infantil e de entretenimento. Ou seja, a leituras e interpretações das HQs são tidas como ponto de partida ou aprofundamento de alguma analise de caráter crítica/reflexiva.
*Ambas as histórias foram escritas por Alan Moore.
Para assistir:
Para ler:
Alan Moore. A Saga do Monstro do Pântano.
Art Spiegelman. Maus.
Gian Danton. Watchmen e a Teoria do Caos.
Grant Morrison. Homem Animal o Evangelho do Coiote.
Stan Lee e Moebius. Surfista Prateado Parábola.
Willian Irwin (org.). Super Heróis e a filosofia.
Willian Irwin (org.). Watchmen e a filosofia.
Para ouvir:
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