Esse brevíssimo ensaio (introdutório) é resultado de algumas conversas com alguns estudantes do 3 Ano "furacões", agradeço pelas considerações.
Ao longo da história da civilização ocidental, o conceito de eugenia levanta uma série de problemáticas, desde o seu surgimento ela surge como uma "justificativa" ou melhor, explicita a relação entre o senhor e o subalterno.
De certa maneira, o conceito de "eugenia" é resultado de uma interpretação (apropriação) deturpada de Francis Galton (1822-1911) sobre a obra de Charles Darwin (1809-1882)* A origem das espécies (1859).
Segundo esta interpretação equivocada, Galton irá fundamentar o seu conceito de "eugenia", a partir disso conseguimos vislumbrar os resultados materiais deste conceito ao longo de certos eventos (fenômenos) históricos, tais como colonialismo, discurso (propaganda) da raça ariana propagada pelo nazismo, a "legitimação" do movimento eugenista no Brasil**, e por último (talvez o mais problemático) o fortalecimento do discurso da eugenia liberal entre os transhumanistas.
Em rápidas palavras, o termo eugenia pode ser interpretado como "bem nascido" ou “hereditariamente dotado de qualidades nobres”, a partir de tais proposições conseguimos vislumbrar a ideologia higienista desta pseudo-teoria.
Como bem sabemos, o discurso eugenista serviu como fundamentação teórica para a propaganda nazista, isto é, serviu como ferramenta política para legitimar o discurso sobre a raça ariana. Mesmo com os atos hediondos contra a humanidade, o discurso eugenista sobreviveu.
Como mencionado, a eugenia irá ganhar uma nova roupagem na contemporaneidade, sobretudo a partir das pautas defendidas pelo movimento transhumanista (gostaríamos de ressaltar que Julian Huxley (1887-1975) será fundamental para divulgar e consolidar a palavra transhumanista).
Uma das principais pautas do movimento transhumanista é o human enhancement (aprimoramento humano), isto é, a partir de terapias genéticas (o CRISPR-Cas9)*** poderemos decidir se as futuras gerações nascerão biologicamente perfeitos, isto é, no "futuro" poderemos escolher com quais características físicas e biológicas os nossos filhos irão possuir, ou seja, a partir da engenharia genética poderíamos dar um novo salto para a evolução, do humano para o pós-humano, entretanto, cabe levar em consideração as implicações deste salto evolutivo. Quais são os dilemas (bio)éticos que teremos de enfrentar, no campo do (bio)direito já há algum consenso sobre os limites da nossa liberdade ou se devemos manter intacto a nossa dignidade enquanto espécie (humana). Quais são as implicações do fenômeno pós-orgânico em Gaia? Estaríamos em nome do progresso tecnocientífico acelerando o processo de extinção enquanto espécie e modo de existência?
Estas são algumas das inquietações que surgem quando nos debruçamos sobre o conceito e a aplicação da eugenia.
*Francis Galton é primo de Charles Darwin.
**Sobre o movimento eugenista no Brasil indicamos as seguintes leituras:
*** Como este ensaio possui o intuito de ser uma introdução ao tema não iremos nos aprofundar sobre o tópico mencionado, desta maneira indicamos o vídeo: A engenharia genética mudará tudo para sempre CRISP (legendado).
Para assistir:
Para ler:
Charles Darwin. A origem das espécies.
Francis Galton. Inquiries into Human Faculty and Its Development.
Jürgen Habermas. O futuro da natureza humana: a caminho de uma eugenia liberal.
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