domingo, 20 de agosto de 2023

O ruído é uma constante aceleracionista

Este "ensaio" é a tentativa de sistematizar algumas conversas que tenho com os amigos Rodrigo Mickus (ruidez) e José Geraldo (PóstumoS).
Para Tawana Tábata.


Falar, problematizar e refletir sobre o aceleracionismo será inevitável, o aceleracionismo é o espectro que assombra a contemporaneidade.
Ainda não há um consenso do que seria o aceleracionismo, em rápidas palavras, o aceleracionismo pode ser compreendido como a extrapolação da filosofia pós-moderna (Baudrillard; Deleuze/Guattari; Derrida e Lyotard), outra característica do aceleracionismo é a sua simbiose com a tecnociência e o pós-orgânico, ou seja, a teoria aceleracionista leva até às últimas consequências para conseguir atingir e até mesmo superar o "high tech, low life" proposto pelo cyberpunk (vide a trilogia Sprawl, de W. Gibson).
Embora o aceleracionismo esteja no limite da fronteira ficção e realidade*, conseguimos vislumbrar alguns fenômenos deste movimento de maneira materializante, para tal, gostaria de chamar a atenção para a música eletrônica e  a sua estética.
Em rápidas palavras (e talvez até estereotipada) definiremos a música eletrônica como um emaranhado de ruídos (noises) e que em um primeiro momento pode ser entendido como um caos musical, beirando a vertigem e a psicodelia. Mas não seria a realidade um imbróglio vertiginoso?
Contudo, neste momento, chamamos a atenção que para captarmos (perceber) o ruído ela demanda estar localizada em algum lugar do espaço-tempo (a priori, sensível), estar em uma constante, uma boa alusão é o longa-metragem Blood Machines (2019).
 Blood Machines é um músical eletrônico de ficção científica, somos apresentado a um futuro desconhecido, a humanidade já superou os limites espaciais, isto é, os humanos viajam pelo espaço através do auxílio das IAs (curiosamente, todas elas são representadas como mulheres).

 
 Por motivos desconhecidos a dupla de blade runners (Vasco e Lago) estão perseguindo uma IA, Mima, contudo, após o encontro e confronto com Mima e algumas sacerdotisas (por algum motivo as IAs são reverenciadas como entidades cósmicas) o que era para ser uma simples missão vai se tornar uma viagem ao desconhecido (seja o desconhecido cósmico, seja o desconhecido da psique das IAs).

Além de uma belíssima (e psicodélica) fotografia, a narrativa do longa não segue uma narrativa convencional, o desenvolvimento da trama acontece através da trilha sonora, ou seja, quanto mais a música progride e intensifica a narrativa avança, além desta técnica, em diversos momentos o longa proporciona ao espectador uma espécie de transe contemplativa.

Contudo, acompanhado com a aceleração dos ruídos musicais, e alguns eventos que ocorrem ao longo da trama, percebemos que a humanidade nunca esteve no controle das IAs, ou seja, o reinado dos seres orgânicos chegou ao fim, um novo salto evolutivo da espécie está em andamento, a do pós-orgânico (talvez aqui possamos imaginar a figura do ciborgue formulado por Donna Haraway). 
Filósofos aceleracionistas como Mark Fischer e Nick Land sugere a aceleração do capitalismo através do progresso tecnocientífico**,contudo, esta aceleração além de contribuir ainda mais para a violação a Gaia, acelera a extinção da própria espécie humana.  
Enquanto Fischer irá propor uma nova forma de comunismo: o comunismo ácido, Land irá se aproximar da extrema-direita contemporânea através do seu iluminismo das trevas.
Será que conseguiremos superar o spektrum aceleracionista? 
Será que conseguiremos conter o ecoar do ruído?


*Como este "ensaio" não possui a pretensão em se aprofundar na filosofia aceleracionista, mas sim como uma possível introdução ao tema, gostaria de sugerir alguns materiais relacionados a hiperstição/teoria-ficção aceleracionista. Victor Ximenes Marques. Um estudo em práticas hipersticionais.; Hiperstição e a teoria-ficção do CCRU e Nick Land.

** Os aceleracionistas de esquerda são tão utópicos (e ingênuos) quanto a esquerda tradicional, sobretudo os marxistas.

Para ler

 
Para assistir/ouvir
 
Blood Machines (2019)




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