domingo, 5 de dezembro de 2021

Monografia

Divulgação da monografia de conclusão de curso em filosofia do estudante Leonardo Gomes pela Universidade Federal do Paraná.
Agradecimentos à Profa. Dra. Débora de Sá Ribeiro Aymoré.
Boa leitura aos interessados.

terça-feira, 31 de agosto de 2021

Filosofia medieval e do renascimento

A primeira versão deste texto foi preparado como material didático, para aula de filosofia do curso pré-vestibular popular bairro 23, meus agradecimentos à instituição. 
 
Filósofos medievais: Averróis (1126-1198); Avicena (980-1037); Boécio
(480-525 d.C.); Guilherme Ockham (1285-1347); Santo Agostinho (354-430
d.C.); São Tomás de Aquino (1225-1274).
 
A filosofia desenvolvida durante o medievo (do séc. V ao séc. XV)
possui uma estreita relação com o cristianismo, ou seja, grande parte dos
filósofos da época se debruçaram em algum debate de natureza religiosa, isto
é, sobre a existência de Deus e as suas implicações sobre a natureza e a
realidade do homem. Alguns dos tópicos debatidos na filosofia medieval
eram:
1. A existência de Deus (comprovar a existência desta entidade a partir
de argumentos racionais, isto é, de uma forma coerente e satisfatória)
2. O que é o bem/mal? (se tudo que Deus cria/criou é perfeito, porque o
mal existe?)
3. O que é o livre-arbítrio? (se Deus existe é possível afirmar que tal
entidade não interfere ou não interfere nas escolhas que nós fazemos?)
4. O que é o tempo?
Os filósofos medievais podem ser divididos em duas grandes ramificações:
I) a escolástica e II) a patrística.
A escolástica contribuiu para a ampla formação de sacerdotes e a
criação das primeiras universidades no continente europeu, um importante
filósofo escolástico foi Santo Agostinho. As reflexões desenvolvidas por

estes filósofos foram influenciados pela filosofia aristotélica. É importante
mencionar que os mouros (grupo muçulmano que viveu na Europa durante
o medievo, sendo estes um grupo importante para compreender as
motivações da igreja católica invadir Jerusalém, deste modo, culminando nas
Cruzadas) pois estes preservaram alguns dos escritos da filosofia aristotélica
e também eram grandes estudiosos deste.
Já a patrística é uma vertente filosófica que começa a ser desenvolvida
a partir da consolidação do catolicismo no império romano, a partir deste
evento histórico, os filósofos/teólogos percebem a necessidade em trazer a
filosofia mais próximo da fé, ou seja, a filosofia desenvolvida pelos
patrísticos contribuiu para a fundamentação teológica do catolicismo. Um
importante representante da patrística foi São Tomás de Aquino. Além de
ser influenciado pela filosofia de Platão, o neo platonismo de Plotino (205-
270 d.C.) também contribuiu para as reflexões da patrística.
Um dos principais objetivos da filosofia medieval era de que a fé
(religião) e razão (filosofia) caminhassem de mãos dadas. Por um longo
período da história a filosofia medieval foi predominante no continente
europeu, porém com o advento do período renascentista, a filosofia medieval
foi perdendo o protagonismo, ou seja, o argumento de que a fé e a razão
deveria caminhar de mãos dadas não era o suficiente, deste modo, começa a
surgir o período renascentista.
O renascimento (início do séc. XIV ao séc. XVII) pode ser
caracterizado como o período de grande avanço para a ciência,cultura e
política na civilização europeia, também é durante o renascimento que
surgem os grandes embates entre a ciência e a instituição religiosa
(catolicismo). Sobre este período podemos mencionar os seguintes nomes:
Erasmo de Roterdã (1466-1536); Galileu Galilei (1564-1642) Leonardo da
Vinci (1452-1519), Nicolau Copérnico (1473-1543) e Nicolau Maquiavel
(1469-1527). Tais personalidades foram de grande valia para o

desenvolvimento do período renascentista em suas respectivas áreas do
conhecimento.
Durante este período temos invenções de aparatos tecnológicos e teorias
como:
1. a luneta (aparelho desenvolvido por Galileu para estudar os corpos
celestes, tais como as trajetórias de Júpiter e Vênus)
2. o globo terrestre (durante este período não havia o conhecimento sobre
a existência do novo mundo, por isso não havia menção sobre o
continente americano)
3. o microscópio (aperfeiçoado pelo cientista holandês Antoin van
Leeuwenhoek (162-1723), o aperfeiçoamento do microscópio
contribuiu para os estudos da biologia)
4. teoria do heliocentrismo (teoria desenvolvida por Copérnico,segundo
esta teoria, o Sol não seria o centro do universo, além disso o planeta
Terra gira em torno do Sol. A teoria de Copérnico iria substituir a
teoria geocentrismo
5. leis da gravitação (leis da física desenvolvida pelo físico inglês Isaac
Newton (1647-1727)
6. imprensa (criado por Gutemberg invenção que contribuiu para a
ampliação e divulgação de livros)
Além da inovação científica, também houve uma inovação nas artes como
a criação das telas de arte, o perspectivismo. Também houve o
desenvolvimento da teoria filosófica do humanismo, teoria que tinha como
argumento central de que o homem (civilizado/europeu) seria importante,
isto é, o centro dos eventos e fenômenos que ocorrem no mundo.
Na campo político temos as teorias do filósofo florentino Nicolau
Maquiavel (1469-1527), em o seu pequeno (porém, denso) livro
O príncipe,
Maquiavel apresenta os seus argumentos sobre a política (como um líder de

Estado/governo deveria ou não agir na política, Maquiavel também é tido
como o primeiro cientista político moderno.
Tanto as reflexões desenvolvidas pelos medievais, quanto a criação ou
desenvolvimento de teorias e aparatos tecnológicos que ocorreram no
renascimento irão repercutir cientificamente, culturalmente, filosoficamente
no período moderno e no contemporâneo.

 
Para assistir: 
 
Joana D'Arc, 1999.
Monty Phyton: em busca do cálice sagrado, 1975.
O nome da rosa, 1986.
O sétimo selo,  1956.
Robin Hood, 2010.

Para assistir (youtube):

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Se a liberdade é inalcançável porque devemos acreditar nela?

 Agradeço aos amigos Giulia e Murilo sobre seus comentários sobre o tema.
 
Liberdade, certamente é um dos conceitos mais difundidos em toda a história da humanidade, entretanto o que é liberdade? O que é ser livre? Eu, você somos livres? Quais são os limites da liberdade?
Ao darmos atenção a essas provocações percebemos a importância deste conceito para a sociedade. Ao longo da história da civilização ocidental, pensadores tentaram definir o que é este conceito, seja através de um ponto de vista, metafísica, política ou até mesmo teológica, e, quais seriam as implicações deste conceito na sociedade. 
A trilogia cinematográfica Matrix, a seu modo, abordou a questão sobre a liberdade. No primeiro filme, somos apresentados ao jovem programador (e hacker) Thomas Anderson, de alguma forma, o jovem percebe que há algo de errado no mundo, deste modo, o personagem toma conhecimento sobre a matrix, um sistema de inteligência artificial que usa vidas humanas como bateria. Com ajuda de um grupo da resistência humana liderados pelo enigmático Morpheus, Thomas Anderson é liberto da matrix. Ao estar livre da matrix, Thomas Anderson (a partir deste momento será chamado de Neo) percebe que tudo o que ele conhecia não passava de uma ilusão programada pela matrix. Essa cena do longa é uma clara alusão à alegoria da caverna, célebre passagem do livro VII da República escrita pelo filósofo ateniense Platão (427 a.C. - 347 a.C.).
Estando livre da matrix, Neo abraça a causa da resistência humana que tem como objetivo acabar de vez com a inteligência artificial, consequentemente, a humanidade estará livre. Entretanto, no terceiro filme Matrix Revulutions, mais especificamente no final do longa, notamos algo peculiar: em uma praça a Oráculo encontra-se ao lado do Arquiteto, o suposto criador da matrix. Nesta cena, a partir do diálogo entre os dois podemos fazer a seguinte interpretação: os humanos estão livres, entretanto, tal liberdade não passa de uma ilusão, segundo o Arquiteto e a própria Oráculo, tudo ocorreu como previsto. Seria a liberdade uma ilusão e tudo que existe está determinado?
Comumente a liberdade é tida como sinônimo de utopia, isto é, mesmo sendo inalcançável, é tido como um ideal a ser alcançável. Ao aceitarmos esse pressuposto, podemos afirmar que a liberdade é usada como um instrumento político, isto é, além de ser utópico, a liberdade pode ser alienante.
Além destas provocações é interessante vermos qual é a posição da ciência a respeito da liberdade, mais especificamente, a neurociência e a filosofia da mente. Entretanto, para darmos continuidade é interessante apresentarmos mesmo que de maneira breve as definições sobre livre-arbítrio e determinismo*.
Determinismo: Doutrina segundo qual tudo que acontece tem uma causa. A explicação habitual dessa ideia consiste em defender que, para qualquer acontecimento, existe um estado anterior relacionado a ele de tal maneira que não poderia (sem violar uma lei da natureza) existir, sem que existisse o acontecimento.
Livre-arbítrio:  O problema consiste em reconciliar a consciência cotidiana de nós mesmos como agentes, com a melhor teoria que a ciência oferece sobre nós.
O filósofo estadunidense Donald Davidson (1917-2003) parte do pressuposto de que a liberdade é uma expressão da razão, portanto há uma correspondência com a natureza, isto é, para Davidson, a razão é uma atividade mental, essa  posição do filósofo é uma resposta ao reducionismo**.
Se adotarmos uma postura mais alinhada às ciências cognitivas, iremos compreender que todas as nossas atividades, sejam elas individuais ou sociais estão relacionada às redes neurais, ou seja, todas as nossas ações são previamente analisadas e determinadas pelo nosso cérebro. Além disso, destacamos a importância da percepção sensorial, isto é, mesmo que as nossas ações sejam articuladas através de alguma atividade mental, sentidos como visão, olfato e tato são relevantes para nos adaptar-nos e interagimos com a respectiva realidade***. 
No entanto, a questão sobre a liberdade permanece, somos livres para tomar alguma decisão? Talvez seja justamente podermos ponderar as nossas ações que nos permita uma idealização de que somos livres.

* Os trechos usados são verbetes que se encontram no Dicionário Oxford de Filosofia.
** Como o presente texto não possui a pretensão em aprofundar-se no tema abordado, mas sim de introduzi-los, não daremos continuidade a posição filosófica de Davidson, para os interessados no assunto recomendamos a dissertação de Andrea Schimmenti.
*** A partir de uma perspectiva epistemológica, alguns filósofos da  mente debatem sobre a precisão da nossa percepção sobre a realidade, recomendamos a leitura do texto de Luiz Henrique de Araújo Dutra.
 
Para assistir (filmes)

The Marix,1999.
The Matrix Revulutions, 2003.

Para assistir:

 
Para ler:

Daniel Dennett. A liberdade evolui. E o determinismo?

segunda-feira, 10 de maio de 2021

O caso Guerra dos Mundos de Orson Welles

 Esse texto é resultado de uma conversa com a estudante secundarista Bianca de Asevedo, grato pela conversa.
 
Na noite do dia 30 de outubro de 1938, algo extraordinário/aterrorizante ocorre nos Estados Unidos, o mundo está sendo atacado por marcianos!
O que era para ser uma simples adaptação da obra de H. G. Wells (1866-1946), War of the Worlds, traduzido para o português Guerra dos Mundos (1898), para o programa de rádio da CBS, ganhou notoriedade por causar pânico nas casas dos estadunidenses. 
Produzido e dirigido pelo até então desconhecido Orson Welles (1915-1985) para o seu programa de rádio semanal, na qual o jovem apresentava  adaptações de obras literárias, entretanto, de modo inesperado o jovem ganha notoriedade, desde então, a partir da repercussão de sua adaptação para o programa de rádio, o mesmo tem sido objeto de estudo entre os especialistas, pois é considerado como a grande fake news da história contemporânea. 
A narrativa de Guerra dos Mundos começa com uma suposta invasão alienígena, nada detém as forças invasoras, nem mesmo as forças amadas, o que resta para a humanidade é a destruição e extermínio. Entretanto de forma inesperada os invasores são derrotados. Embora essa breve apresentação da obra de Wells pareça simples, foi essa narrativa que causou pânico nos ouvintes da rádio. Após a tamanha onda de histeria e pânico, Welles pede desculpas em rede nacional, segundo ele, além de não imaginar que a sua adaptação iria causar tamanho alvoroço, não era sua intenção causar histeria entre os seus ouvintes.
Ao tomarmos conhecimento sobre a façanha de Welles, podemos caracterizar tal feito como um fenômeno de transmissão de fake news. Pensadores como Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973) nos advertem sobre os meios de comunicação em massa, segundo estes pensadores a cultura de massa é alienante, ou seja, a cultura de massa não contribui para o desenvolvimento crítico do indivíduo.   Ao voltarmos ao nosso tempo, vemos que o fenômeno da fake news continua a pleno vapor, deste modo, podemos fazer a seguinte questão: mesmo com todo o desenvolvimento tecnológico e informacional, como é possível a proliferação de fake news?
Desde o surgimento dos meios de comunicação em massa notamos a circulação de informações falsas, a partir disso surgem novas questões: o que é informação? como verificamos se tal informação é verdadeira ou falsa? Uma possível solução sobre tais questões é a emancipação, ou seja, o desenvolvimento da análise crítica, deste modo, cabe incentivar os meios que proporcionam o indivíduo a emancipação, seja através, da cultura e da educação.
 
Para ouvir:

 
Para ler:
 
Theodor Adorno & Max Horkheimer. Dialética do Esclarecimento. 

domingo, 4 de abril de 2021

O transhumanismo é pop

 O transhumanismo é uma das correntes filosóficas mais difundida pela cultura pop, o transhumanismo pode ser encontrado no gênero de ficção científica, na literatura, mais especificamente, na literatura cyberpunk, por exemplo no texto Cyberpunk (1980), de Bruce Bethke ou no livro Neuromancer (1984), de William Gibson, nos cinemas vale mencionar os icônicos Blade Runner (1982), de Ridley Scott e The Matrix (1999), das irmãs Wachowskis, nos videogames temos Cyberpunk 2077 (2020) e Deus Ex: Human revolution (2011).
Mas o que é transhumanismo? O transhumanismo pode ser entendido como um movimento que visa transcender os limites do corpo humano através da tecnologia. Os entusiastas do transhumanismo, isto é, transhumanistas  tem como objetivo expandir ou até mesmo erradicar as limitações do corpo humano em todos os aspectos, isto é, biológico, cognitivo e psicológico. Ou seja, através da tecnologia o homem finalmente atingirá a imortalidade. 
Mesmo através do avanço tecnocientífico, velhas indagações continuam: o que é ser humano, o que nos diferencia dos demais seres? seria o que convenientemente chamamos de alma? ou seria alguma atividade cognitiva que chamamos de consciência? Além destas questões que assombram a humanidade, devemos refletir sobre os impactos do fenômeno transhumanista na sociedade, ou seja, as maravilhas que o transhumanismo tanto assegura não seria um meio de escancarar ainda mais as fragilidades econômicas de determinadas classes sociais?
Filósofos contemporâneos como Francis Fukuyama e Nick Bostrom tem dedicado-se a refletir sobre o transhumanismo. Sendo assim, percebemos que as especulações imaginadas pela ficção científica estão próximos ou já fazem parte do cotidiano da sociedade contemporânea. Ou seja, o transhumanismo não é mera especulação, o transhumanismo traz implicação ética (bioética) e política. Filósofos de uma ala mais alinhada ao conservadorismo, neste caso, bioconservador, como já mencionado antes, Francis Fukuyama se opõem a utilização de tecnologia para alterar o corpo humano, pois segundo esse raciocínio estaria alterando a natureza humana além de comprometer a dignidade humana.  
Já Bostrom, de certa forma é um entusiasta do transhumanismo, pois, para o filósofo o transhumanismo é estagio inicial para atingirmos o pós-humanismo, sobre o pós-humano é interessante traçar um paralelo com o além do homem (übermesch) conceito mencionado por Nietzsche (1844-1900), seria o pós-humano o übermesch dito por Nietzsche?
Deste modo, percebemos de como estamos tão próximos da realidade imaginada pela ficção científica, isto é, os impactos da biotecnologia e cibernética ocorrem no cotidiano da sociedade, sendo assim, debates a respeito do transhumanismo ocorrem nas mais diversas áreas do conhecimento, pesquisas sobre as consequências em torno h+* e o pós-humanismo ocorrem em várias escalas. Ao fazermos esta brevíssima apresentação sobre o transhumanismo, cabe fazer as seguintes questões: seria o transhumanismo/pós-humanismo o próximo passa da evolução? Quais são as consequências desta evolução?
 
*h+: abreviação do transhumanism.
 
 Para assistir:

 
Para assistir (filmes):
 
Altered Carbon, (2018-2020).
Black Mirror (2011-
Elysium, (2013).
Ghost in the Shell (1995).
Transcendence (2014)
 
Para ler:  

Francis Fukuyama. Our posthumanism future: consequences of the biotechnology revolution (inglês).

quarta-feira, 31 de março de 2021

Xenomorfo + capitalismo = xenocapitalismo

Dedico esse texto à Rodrigo Mickus. Um importante filósofo alucinado do planetoide tupiniquim...

Ao assistirmos o longa-metragem de Ridley Scott, Alien the 8th passenger (1979), somos apresentados  a um dos alienígena mais famoso da cultura pop, o xenomorfo.
O xenomorfo certamente pertence a raça alienígena mais mortífera do universo, ou seja, desde sua primeira aparição, tornou-se claro que é impossível domesticá-los*. No longa de 1979, somos apresentando a um grupo de viajantes, tripulantes da nave Nostromo, que esta retornando para a Terra, entretanto, a nave intercepta uma transmissão misteriosa, os tripulantes acreditam ser um pedido de socorro, deste modo, decidem ir investigar. A transmissão interceptada pela Nostromo é oriunda do Planeta LV 426. Após a sua chegada em LV 426, a tripulação descobre a transmissão não é um pedido de socorro, mas sim uma transmissão de aviso sobre a morte eminente. Após uma série de eventos no planeta, alguns tripulantes retornam a nave, a partir disso o pesadelo inicia-se, de maneira inusitada e horrenda surge o alienígena assassino. 
O restante da tripulação tenta inutilmente sobreviver ao xenomorfo, além disso, para a surpresa de Ripley (personagem interpretada pela atriz Sigourney Weaver e protagonista do longa), seus superiores querem o xenomorfo vivo, para fins bélicos. Contrariando as ordens de seus superiores, Ripley luta contra o xenomorfo pela sobrevivência, após ver todos os seus planos frustrados pelo alien, Ripley possui um ultimo plano, na qual obtém êxito. Finalmente o xenomorfo é derrotado e expulso da Nostromo.
Em  Aliens (1986), o segundo filme da franquia Alien (dirigido por James Cameron), dá continuidade a trama de Alien the 8th passenger. Logo após os eventos do primeiro filme,  passado alguns anos à deriva no espaço, a Nostromo é encontrado pela Weyland-Yutani Corp, Ripley encontra-se viva, graças ao estado de hibernação da nave. Ao estar viva, Ripley deve esclarecimentos ao seus superiores. Anos se passaram, o Planeta LV 426 já esta colonizado, de acordo com os superiores de Ripley, nenhum vestígio alienígena foi encontrado no planeta.   
No entanto, a prosperidade e tranquilidade em LV 426 é passageira, a Weyland-Yutani perde a comunicação com a colônia, deste modo, um grupo militares, um representante da Weyland e Ripley partem para o planeta para investigar. Ao chegar ao planeta, o grupo percebe que o planeta esta infestado de xenomorfos, agora o grupo lutam contra os alienígenas para permanecerem vivos, novamente a Weyland revela não estar preocupado com o bem estar dos colonos e muito menos pelo grupo militar ou a própria Ripley, a corporação esta interessado em capturar um xenomorfo (ou a rainha) para fins bélicos isto é, arma biológica.  
Com a breve apresentações da franquia cinematográfica Alien, é fica mais de encontrar uma possível crítica ao capitalismo. Como podemos ver, mesmo sendo uma criação humana, o capitalismo pode ser entendido como uma entidade cósmica própria, ou seja, o capitalismo transcendeu a metafísica do homem moderno. Assim como o capitalismo, não existem meios de como domesticar um xenomorfo, além de como não há meios de impedir tais entidades adaptarem-se aos ambientes dos vivos, o capitalismo se adapta a partir da cultura, o xenomorfo adapta de acordo com o DNA de sua vítima, ou seja, não há  meios de conter extinguir definitivamente o avanço do capitalismo cosmológico hiper selvagem, pois a ontologia xenocapitalista é um parasita simbiótica, um parasita que já tomou a ontologia da modernidade e vem parasitando a ontologia pós-moderna/hipermoderna, deste modo, cabe fazermos o seguinte questionamento: ao contribuirmos com a aceleração do xenocapitalismo ela irá autodestruir-se ou ela atravessará as demais dimensões ontológicas, isto é, o xenocapitalismo pode parasitar ontologias não-humana e extra-humana?
Quais são os limites do xenocapitalismo?
O xenocapitalismo pode ser entendido como horror cosmo cibernético, ou seja, uma entidade ontológica incompreensível e enlouquecedora.
 
* No mais recente longa-metragem de Ridley Scott, Alien: Covenant (2017), na tentativa de superar seu criador, Peter Weyland, o robô David, cria o que ele acredita ser a mais perfeita forma de vida,o xenomorfo.

Para assistir:
 
Alien: Covenant, 2017.
Aliens, 1986.
Alien the 8th passenger, 1979.


Para ler:

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Em direção da catástrofe

Para Tawana Tábata.  
Esse texto é resultado de algumas conversas com Matheus Garcia, grato pela amizade e proporcionar conversas interessantíssimas.
 
Estaríamos próximos de concretizar a realidade imaginada pela literatura distópica? Estaríamos próximos do icônico final de Planeta dos Macacos (1968), na qual o astronauta estadunidense Taylor descobre que o planeta em que se encontra sempre foi o planeta Terra, no entanto, a humanidade conseguiu autodestruir-se. Ou estaríamos mais próximo a realidade de Blade Runner  (1982)? A fronteira entre o real e o virtual é cada vez mais dúbio, a fragilidade social cada vez mais explícita, ausência do Estado e a presença cada vez mais consolidada das grandes corporações. 
Se tomarmos como ponto de partida a revolução industrial (1760-1840) veremos que deste então houve um boom tecnológico, isto é, com o desenvolvimento da técnica, a vida humana "progrediu". Para ilustrar tais "progressos" vale mencionar a modernização dos meios de locomoção (aérea, marítimo e terrestre)  e a modernização dos meios de comunicação, sobretudo com o surgimento e consolidação da internet.
Entretanto, mesmo com tais maravilhas, a autodestruição da espécie sempre rondou a humanidade. A colonização e tráfico de uma sociedade não europeia, o genocídio dos hererós e namaquas (1904-1908); genocídio de Auschwitz, os lançamentos das bombas nucleares nas ilhas Hiroshima e Nagazaki (6-9 de agosto de 1945) e o acidente de Chernobyl (25-26 de abril de 1986) são algumas das catástrofes em que algum aparato tecnológico fora usado para fins destrutivos.  
É possível afirmar que o avanço/progresso da técnica é consequência do capitalismo, isto é, tais avanços não ocorreriam se tais fenômenos não fossem demandas do capitalismo propriamente dito. No entanto, assim como outras formas de economia, o capitalismo está fadado ao fracasso, ou melhor o capitalismo é um modelo econômico fracassado, entretanto, temendo outras alternativas, insistimos em prolongar a "vida" de uma entidade moribunda, deste modo, podemos afirmar que o capitalismo é um zumbi, que se alimenta de cérebros.
Ao utilizar um personagem monstruoso como uma caracterização do capitalismo, é interessante utilizarmos a imagem do xenomorfo (personagem da franquia cinematográfica Alien). Uma espécie alienígena que possui instinto de destruição e violência, ou seja, a barbárie. Entretanto, diferente da franquia cinematográfica, não existem meios para erradicar por completo esta criatura/sistema, pois além de estarmos adentrando a realidade distópica, a Terra já entrou em colapso, deste modo nos resta adiar o fim do mundo ou esperar por ela...
 
 
Para assistir:
 
Blade Runner, 1982.
Planeta dos Macacos, 1968.
 
Para ler:
 
Bruno Latuor. Jamais fomos modernos.
Déborah Danowski & Eduardo Viveiros de Castro. Há mundo por vir? 
Eric Hobsbawm. Era dos extremos. 
Martin Heidegger. A questão da técnica. 

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Cultura pop e teoria decolonial

É possível pensarmos decolonialidade a partir da cultura pop? 
Personagens fictícios como o rei de Wakanda T'Challa, o Pantera Negra, o herói de aluguel Luke Cage e a mutante Ororo Munroe, mais conhecida como Tempestade são alguns dos personagens com relevância que podemos citar.
Corre por aí que o surgimento do personagem Pantera Negra foi inspirado no movimento dos Panteras Negras (1966-1976). Luke Cage também surge em um contexto social, o herói vende seus serviços para proteger o seu grupo. 
Voltando ao Pantera Negra, somos apresentado à uma nação fictícia, Wakanda, um país do continente africano que viveu no anonimato por séculos, isto é, a nação não foi colonizada pelos europeus, deste modo, Wakanda prosperou. Mesmo vivendo no anonimato em vista do resto do mundo, Wakanda não é um reino arcaico, isto é, Wakanda possui tecnologia de ponta, em alguns casos, tecnologia mais avançada que a própria SHIELD. No entanto vale a pena ressaltar que além de ser hipertecnológicos, Wakanda não se esqueceu de sua ancestralidade, deste modo formulamos as seguintes questões: como é possível o avanço científico e a ancestralidade coexistirem? Seria esta coexistência que permite Wakanda ser uma nação soberana?
Se considerarmos a tradição ocidental rapidamente afirmaremos que não, entretanto, ao nos debruçarmos a filosofia não ocidental, isto é, filosofias marginalizadas, logo perceberemos que os paradigmas e conceitos já consolidados no Ocidente não corresponde nestas culturas, ou seja, a cosmologia e a cosmopolítica dos povos não ocidentais diverge com o nosso modo de analisar e compreender a realidade, deste modo, é necessário revisarmos o nosso conhecimento. Para darmos inicio nesta revisão do conhecimento podemos partir das seguintes questões: I) podemos tratar a ancestralidade como teoria do conhecimento? II) quais são as fronteiras entre a epistemologia e a ontologia?
Desta maneira, mesmo que em um primeiro momento, de forma geral, é possível refletirmos sobre a decolonialidade através da cultura pop, posteriormente, ainda através da perspectiva da filosofia pop é possível refletirmos sobre a decolonialidade, deste modo, convidando aos interessados na cultura pop a conhecerem a existência de outras filosofia e posteriormente introduzirem a este debate.  

Para ler:

Achille Mbembe. Crítica da razão negra.
Achille Mbembe. Necropolítica.
Achille Mbembe. Sair da grande noite.
Aimé Césaire. Discurso sobre o colonialismo.
Angela Davis. Mulheres, cultura e política.
Frantz Fanon. Pele negra, mascaras brancas.
Homi K. Bhabha. O local da cultura.
Kwame Anthony Appiah. Na casa de meu pai.
Mike Benson. Luke Cage Noir.
Silvio Almeida. Rascismo estrutural.
Steve Hahn. Pantera Negra: Uma nação sob nossos pés.
Sybille Titeux de La Croix. Miss Davis.