quarta-feira, 16 de junho de 2021

Se a liberdade é inalcançável porque devemos acreditar nela?

 Agradeço aos amigos Giulia e Murilo sobre seus comentários sobre o tema.
 
Liberdade, certamente é um dos conceitos mais difundidos em toda a história da humanidade, entretanto o que é liberdade? O que é ser livre? Eu, você somos livres? Quais são os limites da liberdade?
Ao darmos atenção a essas provocações percebemos a importância deste conceito para a sociedade. Ao longo da história da civilização ocidental, pensadores tentaram definir o que é este conceito, seja através de um ponto de vista, metafísica, política ou até mesmo teológica, e, quais seriam as implicações deste conceito na sociedade. 
A trilogia cinematográfica Matrix, a seu modo, abordou a questão sobre a liberdade. No primeiro filme, somos apresentados ao jovem programador (e hacker) Thomas Anderson, de alguma forma, o jovem percebe que há algo de errado no mundo, deste modo, o personagem toma conhecimento sobre a matrix, um sistema de inteligência artificial que usa vidas humanas como bateria. Com ajuda de um grupo da resistência humana liderados pelo enigmático Morpheus, Thomas Anderson é liberto da matrix. Ao estar livre da matrix, Thomas Anderson (a partir deste momento será chamado de Neo) percebe que tudo o que ele conhecia não passava de uma ilusão programada pela matrix. Essa cena do longa é uma clara alusão à alegoria da caverna, célebre passagem do livro VII da República escrita pelo filósofo ateniense Platão (427 a.C. - 347 a.C.).
Estando livre da matrix, Neo abraça a causa da resistência humana que tem como objetivo acabar de vez com a inteligência artificial, consequentemente, a humanidade estará livre. Entretanto, no terceiro filme Matrix Revulutions, mais especificamente no final do longa, notamos algo peculiar: em uma praça a Oráculo encontra-se ao lado do Arquiteto, o suposto criador da matrix. Nesta cena, a partir do diálogo entre os dois podemos fazer a seguinte interpretação: os humanos estão livres, entretanto, tal liberdade não passa de uma ilusão, segundo o Arquiteto e a própria Oráculo, tudo ocorreu como previsto. Seria a liberdade uma ilusão e tudo que existe está determinado?
Comumente a liberdade é tida como sinônimo de utopia, isto é, mesmo sendo inalcançável, é tido como um ideal a ser alcançável. Ao aceitarmos esse pressuposto, podemos afirmar que a liberdade é usada como um instrumento político, isto é, além de ser utópico, a liberdade pode ser alienante.
Além destas provocações é interessante vermos qual é a posição da ciência a respeito da liberdade, mais especificamente, a neurociência e a filosofia da mente. Entretanto, para darmos continuidade é interessante apresentarmos mesmo que de maneira breve as definições sobre livre-arbítrio e determinismo*.
Determinismo: Doutrina segundo qual tudo que acontece tem uma causa. A explicação habitual dessa ideia consiste em defender que, para qualquer acontecimento, existe um estado anterior relacionado a ele de tal maneira que não poderia (sem violar uma lei da natureza) existir, sem que existisse o acontecimento.
Livre-arbítrio:  O problema consiste em reconciliar a consciência cotidiana de nós mesmos como agentes, com a melhor teoria que a ciência oferece sobre nós.
O filósofo estadunidense Donald Davidson (1917-2003) parte do pressuposto de que a liberdade é uma expressão da razão, portanto há uma correspondência com a natureza, isto é, para Davidson, a razão é uma atividade mental, essa  posição do filósofo é uma resposta ao reducionismo**.
Se adotarmos uma postura mais alinhada às ciências cognitivas, iremos compreender que todas as nossas atividades, sejam elas individuais ou sociais estão relacionada às redes neurais, ou seja, todas as nossas ações são previamente analisadas e determinadas pelo nosso cérebro. Além disso, destacamos a importância da percepção sensorial, isto é, mesmo que as nossas ações sejam articuladas através de alguma atividade mental, sentidos como visão, olfato e tato são relevantes para nos adaptar-nos e interagimos com a respectiva realidade***. 
No entanto, a questão sobre a liberdade permanece, somos livres para tomar alguma decisão? Talvez seja justamente podermos ponderar as nossas ações que nos permita uma idealização de que somos livres.

* Os trechos usados são verbetes que se encontram no Dicionário Oxford de Filosofia.
** Como o presente texto não possui a pretensão em aprofundar-se no tema abordado, mas sim de introduzi-los, não daremos continuidade a posição filosófica de Davidson, para os interessados no assunto recomendamos a dissertação de Andrea Schimmenti.
*** A partir de uma perspectiva epistemológica, alguns filósofos da  mente debatem sobre a precisão da nossa percepção sobre a realidade, recomendamos a leitura do texto de Luiz Henrique de Araújo Dutra.
 
Para assistir (filmes)

The Marix,1999.
The Matrix Revulutions, 2003.

Para assistir:

 
Para ler:

Daniel Dennett. A liberdade evolui. E o determinismo?

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