quarta-feira, 5 de agosto de 2020

One Piece, anarquismo e liberdade

O mangá de Eiichiro Oda, One Piece (1997- ) certamente é um dos mangás mais difundido e longevo da atualidade, o mangá ganhou uma adaptação animada em 1999, que também está no ar até o momento. One Piece pertence ao gênero shounen, comumente este gênero é voltado ao publico adolescente masculino, o shounen basicamente segue a seguinte formula: acompanhamos o desenvolvimento do personagem principal (jornada do herói) e lutas entre personagens masculinos fortes.
Em One Piece, acompanhamos  as aventuras de um jovem pirata Monkey D. Luffy e sua tripulação, os Piratas do Chapéus de Palha, além de enfrentar outros piratas e a marinha (Estado), Luffy possui o objetivo de tornar-se o maior pirata de todos os tempos, o Rei dos Piratas, título que pertenceu ao lendário Gold D. Roger. Entretanto, se analisarmos a obra de Eiichiro Oda, perceberemos que One Piece não é apenas um produto de entretenimento, a obra de Oda possui algumas provocações, isto é, instiga o leitor/telespectador.
One Piece aborda temas como autoritarismo, gênero e racismo. Aqui daremos atenção ao debate político que a mangá/anime proporciona, abordaremos a relação entre anarquia e liberdade.
Em One Piece personagens como Gold D. Roger, Monkey D. Dragon, Monkey D. Luffy, Sabo e até mesmo Marshall D. Teach  prezam a liberdade mais do que qualquer coisa, para eles, toda forma de autoritarismo é reprovável, pois limita a liberdade. O grupo comandado por Dragon, os revolucionários, tem como principal objetivo derrubar o Governo Mundial (Estado) e devolver a liberdade a população, deste modo, os revolucionários comandados por Dragon podem ser interpretados como uma alusão aos anarquistas.
Para dar prosseguimento, recorreremos ao verbete anarquismo do Dicionário de Política, do Norberto Bobbio.
O termo Anarquismo, ao qual frequentemente é associado o de "anarquia", tem uma origem precisa do grego anarkhia, sem Governo: através deste vocábulo se indicou sempre uma sociedade, livre de todo o domínio político autoritário, na qual o homem se afirmaria apenas através da própria ação exercida livremente num contexto sócio-político em que todos deverão ser livres. Anarquismo significou, portanto, a libertação de todo o poder superior, fosse ele de ordem ideológica (religião, doutrinas, políticas, etc.), fosse de ordem política (estrutura administrativa hierarquizada), de ordem econômica (propriedade dos meios de produção), de ordem social (integração numa classe ou num grupo determinado), ou até de ordem jurídica (a lei). A estes motivos se junta o impulso geral para a liberdade. Daí provem o rótulo de libertarismo, atribuído ao movimento, e de libertário, empregado para designar o que adere ao libertarismo. 
Precisados os termos, por Anarquismo se entende o movimento que atribui, ao homem como indivíduo à coletividade, o direito de usufruir toda a liberdade, sem limitação de normas, de espaço, de tempo, fora dos limites existenciais do próprio indivíduo: liberdade de agir sem ser oprimido por qualquer tipo de autoridade, admitindo unicamente os obstáculos da natureza, da "opinião", do "senso comum" e da vontade da comunidade geral - aos quais o indivíduo adapta se constrangimento, por um ato livre de vontade. Tal definição genérica, avaliada de diversas maneiras  por pensadores e movimentos rotulados de anárquicos, pode ser sintetizada através das palavras retomadas em nosso século, por volta dos anos 20, pelo anárquico Sebastien Faure na Encyclopédie anarchiste: "A doutrina anárquica resume-se numa única palavra: liberdade"
Deste modo, percebemos a relação entre anarquismo e liberdade são intrínsecos. Mesmo sendo um conceito metafísico, a noção de liberdade possui desdobramentos na política, ao longo da história da civilização ocidental percebemos que a noção de liberdade foi modificada ao longo do tempo e também pelos grupos políticos (progressista ou reacionária). 
Partindo da concepção tradicional da filosofia, isto é, a partir do verbete liberdade tentaremos definir o que é liberdade*.
 Liberdade como autodeterminação ou autocausalidade, segundo a qual a liberdade é a ausência de condições e limites. II liberdade como necessidade, que se baseia no mesmo conceito da precedente, a auto determinação, mas atribuindo-a à totalidade a que o homem pertence (Mundo, Substancia, Estado); III liberdade como possibilidade de escolha, segundo a qual liberdade é limitada e condicionada, isto é, finita. Não constituem conceitos diferentes as formas que a liberdade assume nos vários campos, como por exemplo liberdade metafísica, liberdade moral, liberdade política, liberdade econômica e etc. A disputas metafísicas, morais políticas, econômicas, etc, em torno da liberdade são dominadas pelos três conceitos em questão, aos quais, portanto, podem ser remetidas as formas específicas de liberdade sobre as quais essas disputas versam.
Entretanto cabe fazer a seguinte questão: o que significa liberdade segundo uma concepção anarquista?
Assim como a maioria dos personagens de One Piece, ao refletir o que entendemos como liberdade, perceberemos que o que chamamos de liberdade não passa de uma construção social, ou um instrumento de controle do sistema capitalista. 
A partir da perspectiva anarquista é possível compreender a concepção de liberdade proposta pela democracia/capitalista como mera retorica, isto é, além de ser insuficiente e um instrumento da alienação a liberdade não é emancipatória. Segundo a perspectiva anarquista, a liberdade só é possível através de alguma revolução social, a partir disso é possível articular novos meios de vida.
Ao longo da trama de One Piece percebemos os impactos das revoluções/batalhas nos arcos da história, personagens como Gold. D. Roger Monkey D. Luffy, Monkey D. Dragon  e Kozuki Oden são personagens que expressam o ideal anarquista, além disso, percebemos qual arriscado é almejar a liberdade em sua totalidade, entretanto, os personagens não desistem de seus objetivos, deste modo, vale destacar a importância da proposição "determinação de..." na obra de Oda. 
Assim como as demais vertentes políticas, o anarquismo propõem um modo de vida, cabe ao individuo/sociedade decidir a manter o status quo, isto é, continuar a ter uma vida relativamente cômoda ou aderir aos modos de vidas alternativos... 

*o trecho (incompleto) do verbete Liberdade foi retirado do Dicionário de Filosofia, de Nicola Abbagnano.

Para Assistir:



Para ler:
Caio Túlio Costa. O que é anarquismo.
George Woodcock. Os grandes escritos anarquistas.
Noam Chomsky. Notas sobre o anarquismo.


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