Existe alguma relação entre o super-homem da DC Comics com o super-homem proposto por Nietzsche? De um lado temos um dos maiores ícones da cultura pop e de outro um filósofo pop, entretanto, tentar traçar uma relação entre o personagem das HQs com o personagem do filósofo é equivocado, mas nada impede tomar como ponto de partida este tópico e expor as divergências destes personagens ou até mesmo servir como pretexto para conhecer um pouco da filosofia nietzschiana.
O personagem super-homem, criado pelos jovens Jerry Siegel e Joe Shuster na revista Action Comics nry 01, junho de 1938, é considerado um marco nas histórias em quadrinhos estadunidense, é o primeiro quadrinho de super-herói, ou seja, o super-homem é o primeiro super-herói dos quadrinhos, deste modo, inaugurando a Era de Ouro dos quadrinhos. O personagem criado pela dupla é uma tentativa de entreter o leitor, isto é, fazer o leitor esquecer da crise financeira na qual a população estadunidense se encontrava, além das sequelas da crise de 29, a probabilidade dos EUA de participar na guerra na Europa vinha aumentando.
O super-homem surge como o ultimo sobrevivente de seu planeta (Krypton), ao ser encontrado pelo casal Kent, o alienígena, aparentemente semelhante a um humano, é criado com os preceitos humanos, isto é, o jovem Clark Kent é influenciado pelos ensinamentos morais de seus pais, com o passar do tempo, o garoto descobre haver habilidades sobre-humanas e decide usar elas em prol da humanidade, desse modo, o filho de Krypton se torna o guardião da Terra, o defensor dos fracos e oprimidos.
Mesmo sendo um alienígena, o super-homem é influenciado pelas características humanas, ou seja, o filho de Krypton pode ser considerado um aristotélico. Mesmo possuindo habilidades sobre-humanas, quase divina, Superman não é egoísta, seu objetivo é proteger a humanidade, além disso, incentiva a humanidade a fazerem o bem sem esperar nada em troca, ou seja, Superman é altruísta.
Deste modo, chegamos na conclusão que o super-homem das HQs diverge com o super-homem de Nietzsche.
Übermensch de Nietzsche, pode ser traduzido como super-homem ou além-do-homem, devido a essa dualidade na tradução é compreensível haver uma alusão/confusão entre os dois super-homem, a dos quadrinhos e a do bigodudo.
O Übermensch não corresponde a moralidade imposta pelo cristianismo, ou seja, para o além-do-homem não faz sentido se prender a ética cristã, de algum modo, o personagem de Nietzsche superou o cristianismo. A partir desta brevíssima apresentação sobre o super-homem de Nietzsche, percebemos que super-homem proposto pelo filósofo alemão é uma critica a ética e a metafísica cristã, enquanto o super-homem de Joe Shuster e Jerry Siegel, mesmo sendo judeus, enaltece a ética cristã e também contribui para uma idealização de um ser benevolente, isto é, um ser divino, com as mesmas qualidades de Deus, em varias ocasiões, principalmente no filme Superman: O Retorno (2006), o personagem é retratado como uma alusão cristianismo, isto é, o kryptoniano se sacrifica para salvar a humanidade, ou seja, enquanto o Übermensch superou o cristianismo, Kal-El pode ser interpretado como uma alusão ao cristianismo.
Embora devido a nomenclatura dos personagens serem semelhantes, existe uma divergência filosófica, isto é, mesmo possuindo nomenclaturas semelhantes, a filosofia que ambos representam convergem em seus desdobramentos, entretanto, ambos servem para introduzir-se a filosofia.
Para assistir:
Para ler:
Gelson Weschenfelder: Filosofando com os super-heróis.
William Irwin (org.). Superman e a filosofia.
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