Desde as suas primeiras aparições nas histórias em quadrinhos, personagens como Capitão América, Sargento Rock ,Super-Homem e Tocha Humana (Jim Hammond) participaram da II Guerra Mundial ao lado dos Aliados contra o Eixo, ou seja, os super-heróis desenvolveram um grande papel durante a guerra no imaginário dos leitores e também no próprio universo das histórias em quadrinhos. Com a popularização dos super-heróis nos quadrinhos, logo foram adaptados para o rádio, cinema, jogos eletrônicos e a televisão. Mesmo tratando de personagens ficcionais é interessante levantarmos algumas questões: os super-heróis respondem a quem? seriam os super-heróis funcionários do Estado?
Um modo de tentar responder as questões acima, é importante retomarmos outra questão: o que é ser super-herói?
Comumente o super-herói é aquele que possui características virtuosas: bondoso, coragem, defensor dos fracos e oprimidos, o super-herói também são tido como referência de padrão estética: corpo perfeito, cabelo alinhado e etc... o vigilante também é retratado como alguém altruísta, isto é, as suas ações são voltadas ao bem-estar da sociedade.
Partindo deste pressuposto podemos compreender o porque de personagens como Capitão América e Superman são tidos super-heróis, entretanto, partindo do pressuposto mencionado acima, percebemos que surge um novo problema: O que faz os personagens como Comediante e Dr. Manhattan serem considerados como super-heróis? O primeiro é um criminoso de guerra, cometeu inúmeras atrocidades na guerra do Vietnã, além disso, tentou estuprar sua colega de trabalho, a também combatente do crime Espectral I, mesmo promovendo inúmeros atos perversos, o Comediante possui legitimidade de atuar como super-herói em solo americano, ou seja, percebemos que existe uma intervenção do Estado (EUA) sobre o controverso herói.
Ainda no universo de Watchmen, temos Dr. Manhattan, um físico nuclear que adquiriu habilidades sobre-humanas, considerado por seus pares como um ser quase divino. Mesmo sendo o único com habilidades sobre-humanas Dr. Manhattan perdeu a sua essência humana, ou seja, Dr. Manhattan não usa as suas habilidades em prol da humanidade, no entanto, mesmo não desenvolvendo afetos com a humanidade, Manhattan é usado como arma ambulante (e ideológica) pelo Estado, ou seja, também de modo controverso Dr. Manhattan é reconhecido como super-herói.
Retornando ao universo convencional de super-heróis a relação entre os vigilantes mascarados e o Estado são explorados: Na HQ de Frank Miller, Batman: O Cavaleiro das Trevas conhecemos um mundo sem super-heróis, são considerados como foras da lei, o único super-herói na ativa é o Superman, no entanto, ele não é mais um super-herói, o kryptoniano é um funcionário do Estado, isto é, de modo consensual, o escuteiro azul concede as suas habilidades para que os EUA expanda o seu poder de influência sobre as demais nações.
Ao mencionar alguns personagens de certas história em quadrinhos, percebemos que existe uma relação entre o governo e os super-heróis. Deste modo, é possível chegar a seguinte conclusão: não existem super-heróis, mas sim super-agentes. Partindo do pressuposto da existência de super-agentes podemos fazer a seguinte pergunta: o que difere um super-agente de um mercenário? O que difere o Superman do Exterminador ou o Homem de Ferro do Deadpool?
Ainda sobre o que significa ser super-herói vale a pena mencionar Guerra Civil Marvel (2006 - 2007).
Após um incidente desastroso envolvendo a comunidade de super-heróis, deste modo, o governo lança
a Lei de Registro de Super-Herói, na qual as identidades dos heróis são reveladas, assim como os mesmos serão transformados em funcionários das Nações Unidas, ou seja, a autonomia e a segurança dos heróis são restringidas. De um lado temos Tony Stark, o Homem de Ferro, um entusiasta da Lei de Registro, de outro, temos Steve Roger, o Capitão América que discorda da Lei de Registro, sendo assim, inicia-se uma tensão interna entre os heróis, por um lado liderados pelo Homem de Ferro, os favoráveis a Lei de Registro, e de outro, liderados pelo Capitão América, que são contra a Lei de Registro. Para o supersoldado os super-heróis estão acima de qualquer governo, portanto possuem autonomia, logo são livres.
Diferente do Estado, devido o seu caráter altruísta , o super-herói sabe de fato que é o bem e o que é o mal. O Capitão América combateu a ameaça nazista, o Super-Homem combateu e combate ameaças como Lex Luthor ou Darkseid, não porque algum governo solicitou ajuda, eles combateram porque o senso de justiça e de liberdade estão acima de qualquer ideologia.
Sendo assim, percebemos que existe um relação intrínseca entre o super-herói e a liberdade, além desta relação, também podemos perceber que o super-herói surge em tempos de crise em que a sociedade se encontra. Por mais que seja fictício, a ideia de um salvador da humanidade é crucial para que haja esperança*.
*Também vale destacar que ao mesmo tempo que a personificação de um herói seja importante pois, traz esperança para a sociedade, a mesma imagem do herói pode trazer a ruína de uma sociedade, pois a partir da personificação do herói surge o governante autoritário. Ver: Alan Moore e David Lloyd. V de Vingança.; Injustice: God Among Us.
Para assistir:
Batman e Superman: como nasceram os heróis.
Capitain America punching nazis: why comics were ALWAYS political (inglês).
Capitão América contra o nazismo.
Política, e religião e referências em GUERRA CIVIL da Marvel.
Capitain America punching nazis: why comics were ALWAYS political (inglês).
Capitão América contra o nazismo.
Política, e religião e referências em GUERRA CIVIL da Marvel.
Para ler:
Alan Moore e Dave Gibbons. Watchmen.
Garth Ennis e Darick Robertson. The Boys.
Geoff Jones Jones e Gary Frank. Relógio do Juízo Final.
Garth Ennis e Darick Robertson. The Boys.
Geoff Jones Jones e Gary Frank. Relógio do Juízo Final.
Frank Miller. Batman: O cavaleiro das trevas.
J. M. Dematteis, Keith Giffen. Liga da Justiça Internacional.
J. M. Dematteis, Keith Giffen. Liga da Justiça Internacional.
John Holland. Os heróis e a arte contra a falta da razão.
Lucas Miranda. A figura do herói e as narrativas na política.
Mark Millar. Guerra Civil.
Mark Millar. Superman: Entre a foice e o martelo.
Rodrigo Moraes Cunha. A representação dos super-heróis Superman e Capitão América como instrumento ideológico estadunidense.
Velho Quadrinheiro. Super-heróis, guerra e o fracasso na política.
Lucas Miranda. A figura do herói e as narrativas na política.
Mark Millar. Guerra Civil.
Mark Millar. Superman: Entre a foice e o martelo.
Rodrigo Moraes Cunha. A representação dos super-heróis Superman e Capitão América como instrumento ideológico estadunidense.
Velho Quadrinheiro. Super-heróis, guerra e o fracasso na política.
Victor Callari. Guerra Civil Super Heróis, Terrorismo e Contraterrorismo nas Histórias em Quadrinhos.
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