É consenso de que O Planeta dos Macacos (1968) é um marco para o gênero de ficção científica no cinema, seja no quesito estético, seja com o roteiro, destacamos a importância do icônico roteirista estadunidense Rod Serling (1924-1975), o roteirista ficou conhecido pelas suas críticas políticas ao governo vigente de sua época.
Neste momento, gostaríamos de propor, mesmo que de forma introdutória, uma das consequências da Era tecnocientífica, a bomba atômica, mais precisamente, o medo causado por tal artefato.
Antes de adentrarmos na reflexão propriamente, é pertinente compreender o contexto em que o longa-metragem está inserido.
O longa pertence a um contexto histórico em específico: a Guerra Fria (1947-1989), embora seja possível encontrar algumas críticas à postura estadunidense em relação ao período (Serling, combateu nas Filipinas durante a II Guerra Mundial), as suas críticas possui as suas limitações, por diversas razões (neste momento, não iremos aprofundar este tópico).
A Guerra Fria foi um dos períodos que estimulou a paranoia de uma possível guerra nuclear entre os blocos hegemônicos do período o capitalismo (EUA) e o socialismo (União soviética), é neste contexto que surgirá o relógio do juízo final, este relógio simbólico mostrar para o mundo o quão próximo que a própria espécie humana está próximo de se autodestruir com algum artefato tecnológico ou como a crise ecológica provocada pelo mesmo também é uma condição acelerante para o fim da própria espécie e os demais organismos vivos.
Partimos do pressuposto de que o longa-metragem contribui para compreendermos a complexidade deste período, isto é, em diversos momentos do longa o espectador percebe o pessimismo dos astronautas em relação a sua própria condição, a descrença com a espécie humana (projeto civilizatório) além de apresentar alguns aspectos que posteriormente (na contemporaneidade) será denominado como uma postura tecnofóbica*. Além destes tópicos, destacamos a icônica cena de encerramento: Taylor encontra a estátua da liberdade em ruínas, ou seja, eles sempre estiveram na Terra (Gaia), o homem alcançou finalmente o seu objetivo: se autodestruir.
Desenvolvemos a nossa reflexão a partir deste ponto, até onde devemos ir em nome do progresso? O longa-metragem possui uma interpretação antibelicista, sobretudo, nuclear. Talvez essa seja uma das marcas registradas de Rod Serling. Além desta interpretação antibelicista, também é possível a seguinte interpretação: a Era atômica como ponto fulcral para compreendermos o Antropoceno.
Uma das possibilidades para compreendermos a relação entre a Era atômica e o Antropoceno é através das reflexões de Günter Anders (1902-1992).
Segundo o filósofo, nunca estivemos tão próximos de concretizar o imaginário de fim do mundo, e ele irá ocorrer via artefato tecnocientífico: a bomba atômica, para o filósofo, não há como esse apocalipse ser revertido ou ser evitado, ela será concretizada. Embora que em um primeiro momento tais elucidações possam parecer tecnofóbica ou catastrofista, o que o filósofo propõe, é uma consolidação de uma nova ética: uma bioética, que dê conta dos problemas levantados pela téchné e gestell heideggeriana.
Ainda que a bioética esteja em andamento, pois ela acompanha os avanços da tecnociência, é fundamental que as fissuras provocadas pela Era atômica sejam levadas em consideração...
*Neste momento, tecnofobia está sendo compreendida como uma forma de ceticismo e rejeição de que o progresso tecnológico (tecnocientífico) irá solucionar a maioria dos problemas (causados pela) da humanidade, quem se interessar por este tópico sugerimos a leitura de Helder Pereira et. al. Tecnofobia ou tecnofilia: a relação dos jovens com as inovações tecnológicas: estudos cross-coutry Brasil, México, Paraguai e Portugal e Rodrigo Born. Tecnofobia: mudanças tecnológicas e transformações na percepção humana.
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